Crítica: O Brutalista

Crítica: O Brutalista, filme indicado ao Oscar 2025 (Foto: Reprodução)
Crítica: O Brutalista, filme indicado ao Oscar 2025 (Foto: Reprodução)

Crítica: Quando se lê o nome do longa O Brutalista, é natural imaginar que a referência se limita ao estilo arquitetônico marcado por suas formas imponentes, concretas e austeras — uma arquitetura que se impõe sobre o espaço e sobre quem o ocupa, sem concessões ou ornamentos, revelando sua estrutura crua. Mas, assim como na arquitetura Brutalista, onde o concreto aparente expõe suas cicatrizes e falhas, o filme revela uma brutalidade que transcende a forma física e se infiltra nas relações humanas, na arte e na própria ideia de pertencimento.

A brutalidade do filme está presente em quase todas as suas sequências: dos corredores claustrofóbicos de um navio abarrotado de imigrantes fugindo do regime Nazista, ao desembarque em uma América distorcida, invertida, fragmentada em promessas ocas. Essa desorientação é sintetizada já na primeira imagem da Estátua da Liberdade — um símbolo de acolhimento e esperança para gerações de estrangeiros — mostrada torta, deslocada na tela, como se fosse um corpo estranho dentro do plano. A mensagem é clara: os Estados Unidos, a terra da liberdade e das oportunidades, observa seus imigrantes não como parte do sonho americano, mas como peças desconfortáveis e indesejadas no grande mosaico nacional.

Cena de O Brutalista. A estátua tombada.
Estátua tombada (Foto: Reprodução)

Ao acompanhar a trajetória do arquiteto Laszló Toth, somos confrontados com sucessivas camadas de brutalidade. Seu estudo, seu talento, sua arte e seu conhecimento nada significam diante do peso da sua identidade. Ele é, antes de tudo, imigrante e judeu — e essa condição é a que molda o olhar que o mundo lança sobre ele. Seu valor enquanto criador é constantemente esmagado pela brutalidade do preconceito, que reduz sua existência a uma única camada: a do “outro”, aquele que não pertence.

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Essa mesma brutalidade se manifesta nas relações sociais, onde os vínculos são permeados por desconfiança e hostilidade; na arte, que é sufocada quando nasce de mãos que a sociedade se recusa a reconhecer; e no estupro, o ato máximo de violência e violação, que ecoa não apenas no corpo da vítima, mas em cada fissura de uma estrutura social construída sobre opressão e poder.

No brutalista também encontramos a obsessão de um artista. Quando tratada de forma crua e brutal, a arte ganha grandiosidade aos olhos do mundo, mas, em contrapartida, corrói tanto o criador quanto tudo ao seu redor. No fim, mesmo quebrado e esgotado, o artista retorna ao seu vício inevitável: fazer arte.

O Brutalismo, enquanto linguagem arquitetônica, não busca esconder suas imperfeições — pelo contrário, ele as expõe, transformando a matéria bruta em discurso visual. Assim também é O Brutalista, que expõe a brutalidade da história, da arte, da imigração e da sobrevivência sem retoques ou suavizações. O concreto do filme é a carne de Laszló, sua identidade, sua criação, suas dores. Tudo está à vista, como numa fachada brutalista: duro, áspero e inescapável.

A brutalidade da arte, do preconceito, das relações sociais. Isso é Brutalista.

Aclamado pela crítica e pelo público desde suas primeiras exibições em festivais, O Brutalista entrou com força na temporada de premiações. A produção foi indicação de destaque no Festival de Veneza e levou prêmios importantes, como Melhor Direção de Arte e Melhor Fotografia no British Independent Film Awards (BIFA). Além disso, a atuação de Adrien Brody tem sido amplamente elogiada, rendendo-lhe o prêmio de Melhor Ator no Festival Internacional de Toronto e uma indicação ao Oscar de Melhor Ator em 2025.

Na cerimônia do Oscar, O Brutalista concorre em categorias importantes, incluindo Melhor Filme, Melhor Direção de Arte e Melhor Ator, consolidando-se como um forte candidato da temporada.

Newton Fusetti

Newton Fusetti é jornalista, roteirista e apaixonado por cinema. Formado em Direção de Cinema e TV pela EBAC, dedica-se à escrita e à análise cinematográfica.

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