Da demissão à ‘Puta Fama’: a virada do DJ Anttony

De demissão por preconceito ao palco do Festival de Verão: a trajetória inspiradora de Anttony, DJ LGBTQIA+ que virou símbolo de resistência. (Imagem: Reprodução)

Anttony, DJ, performer e agora também cantor, é hoje um dos nomes mais comentados da cena musical alternativa do Brasil. Mas antes de alcançar os holofotes e figurar entre as músicas mais ouvidas do iTunes Brasil com seu single de estreia, “Puta Fama”, sua história foi marcada por rejeição, medo e resistência. Uma trajetória que, em poucos meses, transformou dor em potência e preconceito em combustível para ocupar os palcos — com coragem, beats e representatividade.

A relação de Anttony com a música começou ainda na infância. Influenciado por ícones do pop como Shakira, Beyoncé, Lady Gaga e atualmente Anitta, ele já se via como artista. No entanto, a liberdade de expressão foi barrada por um ambiente religioso extremamente conservador, onde ser um menino gay e afeminado era motivo de repressão. “Comecei a me apresentar escondido nas festas da escola. Tinha medo de mostrar meu lado artístico por causa da igreja que frequentava”, conta.

Kart Love confirma Pablo e Tarcísio do Acordeon na gravação do DVD “Meu Nome é Kart, Sobrenome Love”

Durante anos, Anttony viveu o conflito entre sua essência e o que esperavam dele. O resultado foi devastador: episódios de depressão, isolamento, tentativas de suicídio e um peso emocional que quase o impediu de seguir adiante. “Cheguei a pesar 45 kg. Eu me forcei a me encaixar no que diziam ser o correto: ser hétero, conservador, seguir à risca a doutrina. Mas essa skin não combinava comigo.”

A virada começou em meio a um dos momentos mais difíceis de sua vida: a demissão por preconceito no trabalho, motivada por sua identidade LGBTQIA+ e expressão artística. O que poderia ser apenas mais um episódio silencioso de exclusão, virou grito — e viralizou. “Gravei um vídeo como desabafo. Não imaginei que tanta gente se identificaria.”

O vídeo circulou nas redes sociais e tocou profundamente a comunidade LGBTQIA+, gerando apoio massivo, convites para tocar em boates e eventos, e um novo status para Anttony: o de símbolo de resistência e autenticidade artística.

A movimentação nas redes foi tão intensa que chegou aos ouvidos do cantor e produtor Pedro Sampaio, que convidou Anttony para uma participação especial no Festival de Verão Salvador 2025. “A galera fez um mutirão que chegou até o Pedro. Ele me chamou para conhecê-lo e estar no palco principal. Foi inesquecível.” O convite marcou não só uma conquista pessoal, mas também uma vitória coletiva: a de ver artistas LGBTQIA+ ocupando espaços de grande visibilidade na cena musical baiana, ainda marcada por resistência à diversidade.

A resposta artística à repressão veio em forma de música. Em seu single de estreia, “Puta Fama”, Anttony transforma os motivos de sua demissão em discurso artístico, gravando o clipe em frente à uma igreja, um local onde viveu parte de sua repressão. “Não foi um afronte. Foi uma mensagem: nós, LGBTQIA+, não precisamos da aprovação da igreja ou de ninguém para sermos quem somos.”

A faixa mistura o Brazilian Phonk, vertente do funk em alta nos EUA e Europa, com a identidade baiana e referências do álbum Funk Generation da Anitta. Produzida por S4tan, que já trabalhou com Pabllo Vittar, a música alcançou o Top 13 do iTunes Brasil na semana de estreia.

Na garra! Bahia encara expulsão logo cedo, mas garante triunfo em clássico

Com uma estética poderosa, presença de palco magnética e discurso necessário, Anttony já prepara o lançamento de um EP, um remix de “Puta Fama” com participação especial e uma agenda que inclui boates e festivais em diversas cidades. “Sou um artista versátil. Do funk ao MPB, quero mostrar que não me limito e que posso transitar por diferentes sons”, afirma Anttony.

Anttony também utiliza sua visibilidade para levantar debates urgentes sobre a escassa representatividade LGBTQIA+ nos grandes eventos culturais de Salvador. “Diferente de São Paulo e Rio, onde artistas locais LGBTQIA+ são abraçados, aqui ainda somos ignorados. Isso precisa mudar”, afirma o DJ.

Ele reconhece o papel fundamental do atual secretário de Cultura da Bahia, Bruno Monteiro, como um aliado na construção de uma cena mais inclusiva e diversa. Para Anttony, Salvador tem um potencial imenso a ser explorado. “Temos tudo para fortalecer nossa cena cultural e exportar nossos artistas e festas para o Brasil inteiro.”

O DJ também faz questão de valorizar quem já está à frente desse movimento na cidade, citando nomes como o Grupo San Sebastian, Elvis, Ana Luiza, Well, Jhon, Robério, Karlinhos, Neres e tantos outros produtores que impulsionam e defendem a cultura LGBTQIA+ em Salvador com dedicação e resistência.

Para quem, como ele, vive entre mundos e quer apostar em uma carreira artística, Anttony deixa um conselho valioso: “Não pense só como artista. Pense como marca. Estude, se promova, seja fiel a você e ao seu sonho. Desistir não é uma opção.”

Ramon Santos

Baiano, Jornalista (DRT 7310/BA), Editor-Exercutivo do Hora Top TV e Editor-Chefe do Pluricultura, Produtor Cultural. Amante da comunicação e apaixonado por esportes.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *