De Niro fala à Folha sobre política e sua nova série na Netflix
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Em entrevista exclusiva à Folha de S. Paulo para o repórter Eduardo Sombini, o ator Robert De Niro, 81, conhecido por suas críticas contundentes a Donald Trump, se mostrou reticente ao comentar o atual cenário político dos Estados Unidos. Apesar de afirmar que o republicano venceu a eleição de forma justa, De Niro revelou estar preocupado com o futuro do país.
“Não é o que eu queria, mas, por enquanto, é o que é. Vamos ver. Esperamos que, talvez, algumas coisas sejam boas. Não sei. Só o tempo vai dizer”, declarou o ator.
A declaração marca uma mudança de tom do astro, que nos últimos anos fez duras críticas a Trump, chamando-o de “aspirante a gângster”, “palhaço” e “vergonha para este país”. No entanto, ao ser questionado sobre política, a assessoria de imprensa de De Niro limitou sua participação no tema, encerrando rapidamente a sessão de perguntas sobre o assunto.
O ator, que estreia na próxima quinta-feira (20) sua primeira grande série de TV, “Dia Zero”, na Netflix, discutiu a trama da minissérie e sua relação com o atual cenário político. No thriller de seis episódios, De Niro interpreta um ex-presidente dos EUA que lidera uma investigação sobre um ataque cibernético devastador. A trama explora temas como desinformação, radicalização política e manipulação da verdade, assuntos que o ator considera fundamentais nos dias atuais. “Estou impressionado com como algo tão simples como a verdade foi distorcido nos últimos anos. Para mim, a ideia do meu personagem era alguém que dizia a verdade sem rodeios”, afirmou.
A produção de “Dia Zero” foi um desafio para o veterano de Hollywood. Segundo De Niro, atuar na minissérie foi equivalente a “fazer três filmes”, devido às filmagens intensas e ao grande volume de informações que precisavam ser transmitidas no roteiro.
“Era um processo muito mais estruturado do que um filme. Eu simplesmente não podia me desviar do diálogo, precisava passar essas informações com precisão”, explicou o ator, que, apesar do ritmo exaustivo, gostou da experiência.
A entrada de De Niro no universo das séries é um reflexo da mudança na indústria do entretenimento. “Nos anos 1970, fazer uma série era como uma sentença de morte para um ator de cinema. Hoje, é um mundo completamente diferente”, afirmou à BBC.
Apesar de estar envolvido em diversos projetos, incluindo um novo filme sobre a máfia e o desenvolvimento de um resort no Caribe, De Niro lamenta não ter um projeto autoral para os próximos anos.
“Queria ter um filme que realmente me motivasse. Algo que valesse a pena passar dois anos escrevendo, dirigindo e atuando”, desabafou.
Com sua trajetória marcada por papéis icônicos e sua crítica contundente à política americana, Robert De Niro segue relevante tanto no cinema quanto na discussão pública. E, mesmo sem a mesma veemência de antes, continua atento às transformações de seu país.