Luiz Contreiras é festejado em rua que leva seu nome em Salvador

Neste sábado, 7 de junho, às 10h30, na celebração do nascimento de Luiz Contreiras (1923-2019), será instalada a placa de identificação da rua batizada com seu nome, no bairro da Fazenda Grande III. Sancionada no último mês de abril, a Lei Municipal 9.848/2025, que denomina o logradouro, é de autoria de Maria Marighella, ex-vereadora de Salvador e atual presidenta da Fundação Nacional de Artes (Funarte), entidade vinculada ao Ministério da Cultura (MinC). Ela se une à família do engenheiro, militante comunista e vítima da ditadura civil-militar brasileira, nesta ação conduzida pela viúva, a educadora e política Amabília Almeida.
“Nossa família está profundamente grata e motivada para a celebração desta homenagem que será prestada a Luiz Contreiras, dando o seu nome a uma rua de um bairro tão populoso de gente trabalhadora, com a qual ele tanto se identificava e era um defensor dos seus direitos enquanto cidadãos e cidadãs. A homenagem reafirma a necessidade de reconhecermos e cultivarmos a memória daqueles que lutaram pela nossa democracia. Agradecemos ao mandato de Maria Marighella pelo compromisso com a verdade e história democrática do nosso país”, declara Amabília Almeida.
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A Rua Luiz Contreiras fica localizada no Acesso Local “02 – Qd B”, com início na Rua Vereadora Yolanda Pires e término no Caminho “16 – Qd B”. No ato, a família mobiliza moradores do local, com distribuição de cordel que conta a história de Luiz Contreiras, plantio de árvores e falas públicas.
“Nomear uma rua com o nome de Luiz Contreiras é também inscrever na cidade a história de resistência do nosso povo. É honrar uma vida dedicada à luta por justiça social, dignidade e democracia. A homenagem prestada pela cidade de Salvador repara simbolicamente a violência que ele sofreu e reconhece sua contribuição decisiva para a história democrática do Brasil”, afirma Maria Marighella.
Neta de Carlos Marighella, em seu mandato como vereadora de Salvador, Maria trouxe a memória para o centro dos debates públicos e políticos. Realizou, entre outras diversas ações, uma Sessão Especial pela passagem do 5 de julho de 1975, data da deflagração da Operação Radar na Bahia, sob comando do torturador coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, auxiliado pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, que prendeu Contreiras e outros 38 militantes, a exemplo de Marco Antônio da Rocha Medeiros, Maria Nazaré Lima do Couto, Sergio Veiga de Santana e Carlos Augusto Marighella, convidados de honra do ato de sábado.
“Muitas são as tentativas de apagamento da memória e da história em relação ao passado da ditadura civil-militar brasileira, as graves violações aos direitos humanos perpetradas pelo Estado autoritário e as verdadeiras circunstâncias e motivações de seus arbítrios. Porém, as memórias e os testemunhos daqueles e daquelas que sobreviveram e resistiram à perseguição política, às torturas e às prisões, são vozes fundamentais para combater qualquer tentativa de apagamento, ocultação ou negação sobre o passado”, defende Maria Marighella.
Luiz Fernando Contreiras de Almeida nasceu em Mundo Novo, Bahia, em 6 de junho de 1923. Formou-se engenheiro civil pela Escola Politécnica da UFBA em 1947 e viveu grande parte da vida em Salvador, ao lado de sua companheira Amabília Almeida, com quem teve três filhos. Militante histórico do Partido Comunista Brasileiro (PCB), atravessou os principais embates políticos do país no século passado.
Sua primeira prisão ocorreu no final da década de 1940, por organizar um comício na Praça da Sé em Salvador, em comemoração ao centenário do Manifesto Comunista e em defesa da legalização do PCB, então colocado na clandestinidade pelo governo Dutra. Em 1953, foi preso novamente durante a campanha “O Petróleo é Nosso”, mobilização popular que resultaria na criação da Petrobras. Sua terceira prisão ocorreu ainda aos 35 anos, quando foi levado à antiga Casa de Detenção.
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Com o golpe de 1964, passou a ser perseguido pelo regime da ditadura civil-militar, e em 1975 foi preso durante a Operação Radar, que, há exatos 50 anos, desmantelou parte da direção nacional do PCB. Na prisão, foi torturado por Carlos Alberto Brilhante Ustra, conhecido por sua extrema crueldade nos porões do DOI-CODI, e vítima de tentativa de homicídio pelo delegado Sérgio Fleury, em uma ação ocorrida no sítio clandestino chamado “Fazendinha”, utilizado por agentes da repressão. Contreiras morreu em 2019, aos 95 anos.
A história de Amabília Almeida é um testemunho concreto da ação feminista rebelde contra o patriarcado, da resistência política em oposição ao autoritarismo e do ativismo docente pela garantia do direito à educação: professora, nascida em Jacobina, em 1929, integrou o quadro de professores do Centro Integrado de Educação Popular Carneiro Ribeiro em Salvador. Foi presidente da Associação Feminina da Bahia (1955), assumiu a liderança do sindicato da classe, participando intensamente das campanhas de melhoria para o trabalho docente desde os anos 1960.
Em virtude da atuação política, foi alvo de perseguição pela ditadura militar brasileira, que visava silenciar e liquidar qualquer tipo de liderança. Com apenas 17 anos de serviço público, foi aposentada compulsoriamente e teve seus direitos políticos suspensos por 10 anos por força do Ato Institucional de outubro de 1964.
Foi vereadora de Salvador de 1982 a 1986 e a única mulher eleita em 1986 como deputada estadual a integrar a Assembleia Constituinte baiana, ao lado de 43 homens. Em função de seu mandato como deputada, a Bahia foi o primeiro Estado a inserir em sua Constituição um capítulo específico sobre os Direitos das Mulheres. Atuou em projetos sociais da Prefeitura Municipal de Salvador ao lado da prefeita Lídice da Mata, de 1992 a 1996, integrou a Comissão Estadual da Verdade da Bahia de 2012 a 2016, além de ter sido condecorada com a Medalha Anísio Teixeira pela Câmara Municipal de Salvador pelo trabalho em prol da educação e com o Prêmio Bertha Lutz no Senado Federal.
Nascida em Salvador em 1976, Maria Marighella é uma atriz e política brasileira. Foi eleita vereadora de Salvador em 2020, candidata a deputada federal pela Bahia em 2022 e atualmente é presidenta da Fundação Nacional de Artes (Funarte), entidade vinculada ao Ministério da Cultura (MinC). É neta do ex-deputado, poeta e revolucionário baiano Carlos Marighella.
Mãe, feminista, gestora e ativista da cultura, é bacharel em Artes Cênicas (UFBA). Foi coordenadora de Teatro da Fundação Cultural do Estado da Bahia (2011-2015) e da Funarte (2015-2016), integrando o início do processo de construção da Política Nacional das Artes. Foi diretora de Espaços Culturais e assessora especial da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (2016-2020).
Em 2020, fundou a ManifestA ColetivA como um “movimento de ocupação da política institucional” e se filiou ao Partido dos Trabalhadores, sendo eleita vereadora da cidade de Salvador. Na vereança, dentre as leis que conseguiu aprovar, estão as que incluíram no Calendário da Cidade o mês Maio Furta-Cor e o Dia da Dignidade Menstrual; a que institui o Programa de Assistência Técnica Pública e Gratuita para Cooperativas e Associações; a Lei Padre Julio Lancellotti, que impede a concessão de alvarás a projetos que façam uso de técnicas de construções hostis; e a que denomina de Luiz Contreiras um logradouro público da cidade. Também aprovou em 2022 o Projeto de Indicação ao Governo da Bahia de elaboração de um Plano Estadual de Redução de Homicídios. Além disso, instalou e presidiu a Frente Parlamentar Mista Ambientalista.
Em 2023, licenciou-se do cargo para assumir a presidência da Funarte, tornando-se a primeira mulher nordestina a ocupar o lugar.
A carreira política de Maria Marighella é pautada na defesa do direito à cultura, às artes, à infância, no feminismo, no antirracismo, no combate às discriminações sexuais e de gênero, no ambientalismo, na defesa da ecologia urbana, em outra cultura política e na luta por memória, verdade e justiça.