O Oscar tem medo de SEXO?
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O Oscar tem medo de sexo?
Vários dos filmes dessa temporada que foram ignorados nas indicações ao Oscar tinham algo em comum: O SEXO
Por exemplo: Nicole Kidman, estrela de Babygirl, interpretando uma mulher que se aproxima do seu fetiche após um caso com seu estagiário; o mesmo aconteceu com Daniel Craig, protagonista de Queer, interpretando um homem gay apaixonado, que expressa fisicamente o que não consegue dizer com palavras. Nenhum dos dois atores foi indicado. Rivais (Challangers), uma sensação da temporada estrelada por Zendaya, que parecia estar entre os favoritos, pelo menos na disputa de uma vaga na categoria de trilha sonora; com uma trilha pulsante e seu roteiro sensual e inovador, não foi indicado a nada. Repito: nada. Já Nosferatu, uma suntuosa representação gótica do desejo à beira da morte, não recebeu a indicação de melhor filme, que alguns esperavam.
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Nenhuma dessas ausências é exatamente uma surpresa; as atuações de Kidman e Craig pareciam perder força à medida que deixavam de ser indicados em premiações anteriores, enquanto Rivais foi simplesmente esquecido — e Nosferatu pode considerar suas indicações técnicas (e sua bilheteria) como uma espécie de recompensa. Os méritos desses filmes podem ser debatidos — na minha visão, a maior omissão desta lista de indicados foi o longa Rivais, cuja trilha sonora e o roteiro evocam uma sensualidade raramente vista nos filmes hoje em dia.
Entre os filmes indicados, A Substância, concorrente a melhor filme, apresenta uma franqueza sobre os extremos ao que o corpo da mulher pode ser levado, reforçando um argumento antigo e familiar: a violência, talvez, seja sempre mais aceitável em Hollywood do que o sexo. E Anora, indicado a melhor filme este ano, parece contestar a ideia de que a Academia rejeita filmes sobre sexo: o filme é sobre uma stripper cuja fisicalidade a leva a lugares inesperados. Mas o terço final do filme, é uma espécie de perseguição maluca pela noite do Brooklyn, o que acaba tirando o sexo do foco, pelo menos por um tempo. Anora trata da delicada teia de relações entre seus personagens. O sexo, em Anora (assim como no vencedor de múltiplos Oscars do ano passado, Pobres criaturas), é, em última instância, um dispositivo que permite que a verdadeira história comece.
Já em Queer, Babygirl e especialmente em Rivais, o sexo é a história — em um grau que exige reflexão, talvez desconfortável. (Rivais é uma obra de supremo controle, enquanto Queer e Babygirl empurram seus protagonistas para situações reveladoras do desejo, que flertam com o riso desconfortável em sua franqueza).
As indicações ao Oscar deste ano são admiravelmente abrangentes — surpreendentemente políticas (de Ainda Estou Aqui, indicado a melhor filme, a O Aprendiz, que rendeu indicações para Sebastian Stan e Jeremy Strong nas categorias de atuação) e abrangendo desde blockbusters como Wicked e Duna: Parte Dois, até filmes pouco vistos como Nickel Boys, que agora ganharam mais visibilidade. Mas talvez ainda existam territórios para os quais o Oscar, por enquanto, simplesmente não quer ir.